Irracionais...
Quando alguém que está dominado por suas paixões[1]
quer muito alguma coisa, ele vai se agarrar a qualquer argumento que lhe pareça
favorável para legitimar a sua vontade deliberada, mesmo que o objeto desejado seja
imoral ou perverso. E, se for necessário, até mesmo as Sagradas Escrituras, lidas
a seu modo, lhe servirão como argumento para justificar as suas decisões[2].
Nesse estado tão miserável, a
criatura se torna impermeável a qualquer argumento discordante, por mais
verdadeiro e superior que ele o seja, e não raramente o rebaterá com argumentos
puramente emocionais e subjetivos.
Alguns traços são evidentes nessas
personalidades deformadas: a falta de lógica nos argumentos, frases fora de
contexto para mudar o sentido dos fatos, irritabilidade quando suas “verdades”
são contrariadas, chantagem emocional, pensamentos obsessivos[3],
etc.
Admitamos ou não, estamos sempre
sendo tentados a servir o nosso ego, e, sinceramente, ninguém precisa ser um
psicólogo para perceber as trapaças que a mente humana usa para validar as nossas
paixões mais insanas.
Assim como as virtudes, em certo sentido, nos assemelham aos anjos, os vícios e paixões nos assemelham aos
demônios. É preciso, contudo, identificar a raiz do problema para sabermos se
podemos ajudar tal criatura ou se devemos nos afastar imediatamente.
Seja qual for o caso, podemos de
imediato rezar por essa pessoa, interceder por ela, dar bom exemplo, oferecer
sacrifício em seu favor e, se for possível, cooperar para que a ela possa ficar
frente a frente com a Verdade.
Não existe um só ato, por mais
“insignificante” que pareça, que não seja uma ocasião para nos aproximar de
Deus ou para nos afastar Dele. É no coração do homem, e não fora, que tudo está
se decidindo a cada minuto, até chegar aquele minuto que será o último da vida de cada
um de nós, e então não haverá mais tempo e nos encontraremos diante do nosso
terrível e inevitável juízo particular.
Portanto, quando perceber que
está diante de uma pessoa ignorante não a despreze, antes, busque por todos os meios possíveis convencê-la
da sua ignorância. Agora, quando perceber que está lidando com uma pessoa egocêntrica (que
se encontra na rampa do inferno), uma obstinada e idólatra do próprio ego, por
prudência, mantenha certa distância para que ela não tenha meios para te prejudicar. Mas, caso você tenha alguma responsabilidade para com ela não fique tão longe que ela não possa, por contraste, perceber a própria doença.
[1]
Paixões, não sentido cristão do terno, se refere tanto as pessoas escravizadas pelos desejos da carne, quanto as dominadas pelo ego/soberba..
[2] "A maioria das pessoas acredita que faz escolhas racionais ou até lógicas, mas, podem acreditar, a maioria das nossas escolhas são emocionais. Depois é que nós colocamos a razão para justificar nossas escolhas". (Ricardo Ventura é professor, psicanalista e cientista comportamental).
[3]
As pessoas obsessivas não
admitem sequer a possibilidade de estarem erradas.
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