quinta-feira, 12 de junho de 2014

Resenha: Hitler e as religiões da Suástica




Autor: Jean-Michel Angebert
Editora: Livraria Bertrand S. A. R. L. Lisboa
Ano: 1971
Páginas: 357


Introdução

Nesta obra de cunho religioso, que mistura mito com realidade, o autor se propõem explicar a origem da humanidade (Atlântida: Uma espécie de gêneses pagã). Sem esconder o seu posicionamento religioso o autor dá a sua visão sobre as disputas religiosas ao longo do tempo entre a igreja cristã e as seitas cátaras e gnósticas. 

O livro fala dos puros, ou iniciados, um seleto grupo de pessoas que através da mitologia antiga receberam conhecimentos espirituais que, por sua vez, foram transmitidos no passar dos séculos até os dias de hoje. Com esse enredo Jean-Michel chega até Hitler que, uma vez influenciado pelas doutrinas dessas seitas se auto proclama o escolhido para purificar o mundo através da aniquilação das raças não puras (sub-raças).

O autor reserva os últimos três capítulos do livro para apresentar, de forma bastante persuasiva, como Hitler absorveu, ou foi absorvido pela gnose, e como essa influência espiritual, narrada sempre em primeiro plano, teria sido o motor propulsor para que este líder alemão pudesse suscitar o império da raça ariana. 

Através de uma gigantesca operação militar, que tinha como objetivo o estanque das raças consideradas não puras, ou raças inferiores, o mundo conheceu um dos maiores genocídios de que se tem notícias; a começar pelos ciganos e judeus.


Crítica Pessoal

Um livro um tanto enigmático, uma vez que o autor revela a existência de uma casta de seres iluminados[1], da qual ele deixa subentendido fazer parte e que são portadores de conhecimentos espirituais que, segundo ele, encontra-se representado pelas religiões: gnóstica, cátara e maniqueísta. Que conhecimentos são esses e quem os concebeu? O autor não diz, deixando o leitor a deriva e ao sabor de seu puro empirismo[2]. Longe de querer rescrever o que nesta obra foi exposto reservo-me ao direito de colocar algumas notas de rodapé que expõem pontos conflitantes a qualquer pessoa de bom senso, ou no mínimo, que conheça uma outra versão da história.

Sob um lupa gnóstica a história se desenrola, hora mostrando o seu profundo ressentimento com os cristãos[3], por sua religião ter sido fortemente combatida nos primeiros séculos da era cristã[4], noutras, imputa crimes que vão desde as falácias de que a igreja saqueava e destruía esses conhecimentos tão excelsos,[5] dos quais o autor credita na conta dessas seitas, mas do qual termina o livro sem revelar nem mesmo uma pequena amostra da existência, ou do que seria esses conhecimentos.

O autor expõem suas opiniões sem qualquer constrangimento, ao ponto de elevar o filósofo Nietzsche a condição de profeta[6], quando no mesmo capítulo, revelando todo seu antissemitismo quando refere-se a Moisés, personagem bíblico, homem das tábuas da lei(conjunto de regras morais que norteia a vida de bilhões de pessoas), aquele que foi usado por Deus para libertar os Hebreus do cativeiro no Egito, taxando-o como ladrão e praticante de magia negra[7].

No esforço de validar as suas crenças, e na tentativa de ser convincente, o autor comete um deslize que compromete qualquer menção feita nesta obra aos cristãos. Exponho aqui tamanho deslize por se tratar de um autor gnóstico, declaradamente inimigo da igreja, mas que sem nenhum pudor atribui um sofisma como se fosse um dogma da igreja, quando na realidade, a verdade cristã é o contrário da sua afirmação. 
Segue o referido: 
“A doutrina cristã contém o dogma do Espirito Santo. Sempre, e em todos os tempos e com todos os povos da cristandade, se viu reaparecer a ideia de um terceiro império, que deve suceder ao do Filho: o Império do Espirito Santo.”  (pág. 210)
Se este comentário viesse de um cristão seria uma heresia. Mas como vem de um gnóstico é um crime, uma vez que ele faz menção aos próprios cristãos para proclamar uma coisa não cristã. 
Segue o que é o dogma de fé de qualquer cristão.
“Porque nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado: sobre o seu ombro está o manto real, e ele se chama Conselheiro Maravilhoso, Deus Forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz. Grande será o seu domínio, e a paz não terá fim sobre o trono de Davi e seu reino, firmado e reforçado com o direito e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo de Javé dos exércitos é quem realizará isso.”  (Livro do Profeta Isaías 9: 6). 
O autor ataca um espantalho do qual ele chama de Igreja Católica, e dessa forma, arrogado-se de ter as provas mais irrefutáveis do planeta, tropeça nas acusações quando acusa a Santa Sé, na pessoa do Papa Pio XII, de omisso, quando menciona a brutalidade dos nazistas sobre os judeus,[8] Ao passo que a própria comunidade  judaica, como cito abaixo, veio em defesa do Papa por sua coragem em defendê-los[9].
Segue um trecho do acima comentado:
"O Dr. Leon Kubowitzky, do Conselho Mundial Judaico, ofereceu uma vasta doação em dinheiro ao Vaticano, “em reconhecimento pela obra de Santa Sé ao resgatar judeus das perseguições fascista e nazista”.

"O rebino-chefe de Jerusalém, Isaac Herzog, disse: “Agradeço ao Papa e à Igreja, do fundo do meu coração, por toda a ajuda que nos deram.”

Conclusão

A obra tem seu devido valor pelas menções que faz a Hitler, embora tenha sempre o colocado em segundo plano, mesmo nos capítulos que lhes foram reservados, revelando uma face até então desconhecida de líder esotérico. Minha apreciação do livro é positiva, o leria outra vez, no sentido de que já que você(cristão) apanha tanto das outras religiões ao menos saiba quem são os que te batem. Eu não recomendaria esse livro para aquelas pessoas não tem o mínimo conhecimento sobre Igreja Católica, pelo simples fato de correr o risco de fazer como fez o autor: Construir um espantalho e sair por aí espancando-o e chamando-o de Igreja Católica


Notas

[1] E é assim que uma das mais velhas lenda da nossa civilização. A história de Atlântida contada por Platão, mudou hoje de aspecto e se tornou verossímil. Pág. 251

[2] Estamos aqui no campo da pura imaginação e é permitido a cada um conceber a Atlântida dos seus sonhos... Pág. 88

[3] A alma germânica e nórdica rejeita a concepção estática de um deus único e soberano do universo... Pág. 290 

[4] Concílio de Niceia (385). Pág. 290

[5] Deploramos somente o abismo que separa a idade Média e o século XVIII, e que foi o pior dos abismos, dado que a Igreja Católica medieval, por uma ignorância culposa, tinha sequestrado e destruído os tesouros acumulados de conhecimentos, ciências e de sabedoria; porque era fácil a ignorância substituir esse edifício de sabedoria pela visão do inferno, atrasando assim a evolução espiritual durante séculos e favorecendo o nascimento das doenças vergonhosas da história, cuja última delas em data é o nazismo. Pág. 198

[6] Da reforma protestante. É dessa liberdade que viria brotar o gênio romântico do século XIX e as figuras prodigiosas desses novos profetas que foram Wagner e Nietzsche. Pág. 155

[7] As seitas alemães neognósticas, cuja existência conhecemos, remontam a ideia, segundo a qual Moisés e os Hebreus, roubando os segredos do Egito, se tornaram adeptos da magia negra, os Gregos, continuadores dos padres de Ámon, teria possuído a magia branca. Pág. 124

[8] Sublinhamos que o vaticano se calou em relação a esta luta, e a tal ponto que vários foram os que acusaram Pio XII de cumplicidade. Esta atitude da igreja pode ser identificada como uma outra de que resultou a eliminação dos cátaros... Pág. 267


Um comentário:

Unknown disse...

Mas você tem dúvida do Deus de Moisés? esse Deus não era nada benevolente meu caro,acredito que os Cátaros tinham razão,mas eu não sei quem é essa entidade se é Lúcifer ou outra coisa tenho minhas dúvidas,não existe nada de mais satanico que o velho testamento,por isso a vinda de Cristo para acabar com a lei de Moisés..dois grandes construtores da causa cristica para mim na biblia seria Paulo e João..saudações!!