sexta-feira, 14 de abril de 2017

JESUS CRISTO É DEUS?


ESCRITO POR EDUARDO SILVA 
14 DE ABRIL DE 2017


INTRODUÇÃO

Neste breve ensaio informal e resumido abordarei especificamente uma questão que é tão mal-entendida pelos adeptos das seitas nascidas a partir do século XVII: Espíritas, Testemunhas de Jeová e os Mórmon no que se refere a divindade de Jesus Cristo. Notadamente, para os Espíritas Jesus foi, e é, somente um espírito de luz que encarnou e passou por essa terra fazendo o bem. Dizem eles: “Para a Doutrina Espírita, Jesus, como todo ser humano, nasceu da união entre um homem e uma mulher e não de uma forma sobrenatural. [...] Apesar de sua importância, Jesus não se confunde com Deus. Não é a Sua encarnação. Era filho de Deus como todas as criaturas o são”.[1] Não é muito diferente, nesse ponto, a doutrina dos Testemunhas de Jeová. Para estes, Jesus Cristo é somente o filho de Deus, criado, mas não é o próprio Deus. Dizem: “Jesus é o Filho mais precioso de Jeová – e por bons motivos. Ele é chamado de “primogênito de toda a criação”, pois foi a primeira criação de Deus”.[2]
Na mesma linha dos Espíritas e dos Testemunhas de Jeová, os Mórmon não creem que Jesus Cristo é o ‘Verbo que se fez carne e habitou entre nós’, ou seja, o próprio Deus. Dizem os Mórmon: “Deus enviou Jesus Cristo à Terra para oferecer-nos uma forma de sobrepujar nossos pecados e nossas imperfeições”.[3] Embora essas três vertentes, ditas “cristas”, tenham doutrinas mais ou menos estranhas entre si, pelo menos em um ponto elas se harmonizam e se somam, quando afirmam que Jesus Cristo não é Deus! E isto é o objeto que está em discussão aqui.
Antes de mais nada gostaria de lembrar duas coisas a todos aqueles que se aventurarem a ler estas linhas: primeiro, eu não falo em nome da Igreja Católica, embora eu seja católico e a reconheça como a única Igreja de Cristo, fundada sobre a rocha que é Pedro;[4] segundo, a base da minha argumentação será as escrituras sagradas (a Bíblia).

Começarei as minhas argumentações dizendo: “NÓS VIMOS DEUS! ”. Sim, somente nós, cristãos, podemos fazer tal afirmação, uma vez que cremos que Jesus Cristo é o próprio Verbo Encarnado (Deus). Vejamos:

No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus. Ele existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dele, e sem ele nada foi feito de tudo o que existe. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens. E a luz brilhava nas trevas e as trevas não conseguiam dominá-la. [...]E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. (Livro de São João 1:1-5 e 14) – Todos os grifos, neste ensaio, são do autor.

Tal afirmação revela uma abismal diferença que há entre a religião cristã e as demais religiões existentes. O mundo caminha para criação de uma religião mundial, onde todas elas, com exceção do cristianismo, se fundirão numa só por meio de um ecumenismo ou de um sincretismo religioso que se ajustará e se arranjará para que caibam todas as crenças existentes nessa nova religião. Se você observar com atenção nenhuma outra religião, em todas as épocas da história humana, pôde ou poderá afirmar o que nós, cristãos, afirmamos: “Nós vimos Deus”, pois os não cristãos creem num Deus abstrato, distante e inacessível, muitas vezes chegando a criarem para si “divindades” “palpáveis” na busca de segurança ou consolo; isso quando não se submetem aos demônios declaradamente, como no caso do Espiritismo e do Candomblé.
Segundo a tradição cristã e as escrituras sagradas, o Verbo é Deus: Aquele que se apresentou a Moises dizendo “Eu sou” [5], foi o mesmo que habitou entre nós em Nazaré, dizendo: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida”.[6] Se fizermos um paralelo entre as duas narrativas bíblicas seguintes, veremos que elas dizem a mesma coisa: “o Verbo estava junto de Deus” (João 1: 1); Jesus disse ao apóstolo “Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está [junto de] em mim? ”. (João 14: 10) Não é raro as pessoas concluírem que, se Jesus fala do Pai, logo, não é Deus. Para entender isso, antes de mais nada, vamos partir da premissa de que se víssemos Deus face a face (a visão beatífica) morreríamos por conta da nossa multidão de pecados ou seríamos seduzidos por tal visão que automaticamente perderíamos a condição de ama-lo livremente. Isso não é difícil de imaginarmos se, por exemplo, observarmos a batalha que houve no céu: "Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão. O Dragão [a antiga serpente] e seus anjos travaram combate, mas não prevaleceram." (Apocalipse 12: 7) Ora, segundo a premissa que acabamos de colocar não é difícil presumir que todos os anjos antes da queda não viam Deus face a face, pois se vissem não haveria qualquer lógica nessa rebelião. Quem vê a Deus face a face já não possui mais a liberdade, portanto não pode rebelar-se. Se alguns anjos se rebelaram, logo deduzimos que, se ver Deus é, como afirmamos, perder a liberdade, e os anjos tiveram a liberdade de se rebelaram, estes não viam a Deus. Os Anjos que usaram a sua liberdade para se submeterem a vontade de Deus tiveram como prêmio a própria perda da liberdade, uma vez que agora veem a Deus face a face, e é por isso mesmo que temos a certeza de que nunca mais haverá outra batalha no céu. “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas”. (Apocalipse 21:4) Aos anjos rebeldes não restou outra coisa senão duas certezas: nunca mais verão a Deus e terão tormentos eternos, claro!

Tomando como pano de fundo a narrativa da batalha no céu, retorno aos argumentos de que Jesus é Deus. Deus entrou no nosso tempo sem sair da eternidade (Onipresença) e para lá voltou sem sair daqui, por meio da Palavra e da Eucaristia). “[...]eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém. (Mateus 28: 20) Fez isso sem retirar a possibilidade de escolhermos amá-lo ou rejeitá-lo, como fizeram os fariseus. Ele fez isso se encarnando na forma humana [...]E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, – ele é segunda pessoa da trindade – onde a Igreja nos ensina que são três pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo) mas um só Deus. Na pessoa de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e Verdadeiro homem (daí vem a expressão ‘Filho do Homem’), Deus habitou entre nós sem nos “roubar” a nossa liberdade. Pois está escrito: “Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós”. (João 14:20) Há muitos textos bíblicos onde Jesus revela-se como sendo Ele próprio o Pai. No evangelho São João, no capítulo 14, pergunta o apóstolo Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta." Seguindo o texto, no mesmo capítulo, Jesus responde: "Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai.... Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que vos digo não as digo de mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é que realiza as suas próprias obras." 

No velho testamento o profeta Isaías já tinha anunciado que Jesus é Deus. Em Isaías 9 está escrito: "O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz." 
Em João 1 vemos o mesmo: “[...] Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens”. Em João 8, novamente vemos: Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue, não andará em trevas, mas terá a luz da vida. ”
Interessante observar a narrativa completa de Isaias 9, que diz: "O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz. Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos. Porque o jugo que pesava sobre ele, a coleira de seu ombro e a vara do feitor, vós os quebrastes, como no dia de Madiã. Porque todo calçado que se traz na batalha, e todo manto manchado de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão presa das chamas; porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz." 

No evangelho de João, capítulo 10: 27 a 29, Jesus disse: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem.  Eu lhes dou a vida eterna; elas jamais hão de perecer, e ninguém as roubará de minha mão. Meu Pai, que me deu, é maior do que todos; e ninguém as pode arrebatar da mão de meu Pai." Veja aqui que as mãos de Jesus são as mãos Deus, que tem suas ovelhas a salvo. Em seguida, no versículo 30. Jesus fecha o assunto dizendo: "Eu e o Pai somos um." Mais a frente, no capítulo 20, São Tomé exclama: “Meu Senhor e meu Deus! ”  Jesus responde a Tomé: "Creste, porque me viste. Felizes aqueles que crêem sem ter visto!" Este é o ponto central que sustenta toda a argumentação desse ensaio: ou Jesus era Deus, como ele mesmo afirmou "Eu e o Pai somos um.", ou ele era apenas um louco que se considerava Deus. Não há espaço para pensar diferente. Em Jesus Cristo, Deus, o criador do céu e de tudo que existe rebaixou-se e entrou no tempo, se faz carne, sofreu, morreu para remissão dos nossos pecados, e morrendo venceu a morte, e ressuscitando nos abriu-nos a vida eterna ao qual não tínhamos acesso desde Adão, nosso primeiro pai.

Antes que alguém tenha uma convulsão por achar que estou escolhendo versículos que concordam com o meu ponto de vista falaremos dos textos bíblicos onde Jesus Cristo abre um diálogo direto com o Pai.

As passagens mais conhecidas estão no Livro de São Mateus, Capítulo 3: 16 e 17, e seguintes, onde lemos: "Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus. E do céu baixou uma voz: Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição." Em seguida, no capítulo 11: 25 e 26 vemos Jesus estabelecendo um diálogo com o Pai: "[...]Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos. Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu agrado”. Em Lucas, capítulo 22: 42, lemos: "Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua.". Por fim, no capítulo 27: 46 do evangelho de São Mateus, lemos: "Próximo da hora nona, Jesus exclamou em voz forte: Eli, Eli, lammá sabactáni? - o que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste. Essas passagens são para os defensores dessa tese “Jesus não é Deus”, até onde percebo, a “prova” incontestável de que o que Jesus falava de si mesmo, como por exemplo, "Eu e o Pai somos um." era apenas uma forma de linguagem que não pode ser tomada ao pé da letra. Entretanto, é muito perigoso escolhermos o que será visto como literal e o que será visto como forma de linguagem. Não foi esse o maior erro de Lutero? A livre interpretação das escrituras? Antes devemos partir do princípio de que as escrituras sagradas são harmônicas e se completam como as notas de uma sinfonia. Todas as escrituras estão devidamente encadeadas umas às outras; se alguém consegui “separá-las” foi porque não as compreendeu na sua totalidade.

Gasto aqui apenas um parágrafo para expor o que penso sobre as passagens usadas por aqueles que se dizem “cristãos”, para sustentar a tese de que “Jesus não é Deus”.

Estas passagens onde a Filho (segunda pessoa da trindade) entrava em diálogo com o Pai (primeira pessoa da trindade) foi a maneira que Deus usou, sendo Ele um comunicador por excelência, para mostrar a humanidade que Jesus Cristo possui as duas naturezas, humana e divina: é cem por cento homem em tudo, menos no pecado, e daí vem a expressão – Filho do homem – e cem por cento Deus, o Logos divino. Em suma, Deus se fez homem para nos resgatar do poder da morte e, nos resgatando, entrou em sua glória levando a humanidade[7] consigo.   "E, quando tudo lhe estiver sujeito, então também o próprio Filho renderá homenagem àquele que lhe sujeitou todas as coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos." (I Coríntios 15: 28)

Creio e defendo o ensinamento da Igreja Católica: “O Dogma de Fé que professa Deus, Uno e Trino, sendo três Pessoas distintas, mas um único Deus. [...]A Igreja considera a Santíssima Trindade um grande mistério. [...] O mistério não se compreende, se experimenta; e Deus se conhece pela experiência. Logo, o mistério não é necessariamente para ser estudado, mas para ser experimentado”.[8] No evangelho de Mateus, capítulo 3: 16 e17, encontramos claramente a manifestação das três pessoas da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Escreveu o evangelista: "Depois que Jesus [Deus filho] foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus [Deus Espírito Santo]. E do céu baixou uma voz [Deus Pai]: Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição.

Eis o que diz o credo Niceno-Constantinopolitano:

Creio em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, / de todas as coisas visíveis e invisíveis. / Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, / nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, / Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, / gerado, não criado, consubstancial ao Pai. / Por ele todas as coisas foram feitas. / E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus: e se encarnou pelo Espírito Santo, / no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; / padeceu e foi sepultado. / Ressuscitou ao terceiro dia, / conforme as Escrituras, / e subiu aos céus, / onde está sentado à direita do Pai. / E de novo há de vir, / em sua glória, / para julgar os vivos e os mortos; / e o seu reino não terá fim. / Creio no Espírito Santo, / Senhor que dá a vida, / e procede do Pai e do Filho; / e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: / ele que falou pelos profetas. / Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica. / Professo um só batismo para remissão dos pecados. / E espero a ressurreição dos mortos / e a vida do mundo que há de vir. - Amém.



Revisão: 1.0




[1] http://www.sbee.org.br/jesus-e-a-moral-crista/doutrina-dos-espiritos/principios/jesus-e-a-moral-crista
[2] https://www.jw.org/pt/publicacoes/livros/biblia-ensina/quem-e-jesus-cristo/
[3] https://www.mormon.org/por/jesus-cristo
[4] Livro de São Mateus 16:18
[5] (Êxodo 3: 14)
[6] (João 14: 6)
[7] Aqueles que aceitaram Jesus como único salvador dos homens.
[8] http://noticias.cancaonova.com/brasil/padre-explica-dogma-da-santissima-trindade/

Nenhum comentário: