quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Seres Incomunicaveis



ESCRITO POR EDUARDO SILVA
20 DE JANEIRO DE 2016

“Hoje, infelizmente, chamar um brasileiro de medíocre é literalmente ofendê-lo, independente do contexto”.
Dizem, da comunicação, que ela acontece quando você consegue expressar, seja por gestos ou palavras, os seus pensamentos e idéias a respeito de algo que supostamente interesse a outra parte (leitor ou o ouvinte) e este disponha, antecipadamente, de alguma simpatia para receber esta informação. Para tanto, a comunicação dependerá que, em primeiro lugar, o sujeito escolha suas palavras da forma mais precisa possível, para que essas representem o sentido real do pensamento ou idéia que ele quer transmitir. Sem essa condição todo o resto da comunicação estará condenada. Por exemplo, se você falar: “aquela coisa”, a chance da outra parte dar sentido diferente ao que você pensou é quase inevitável.
Vencendo esse primeiro obstáculo, haverá outros tão importantes quanto, (diferem apenas na ordem) e que compete a outra parte supostamente interessada.
É aí que o problema começa. Explico. Nos grupos de debates dos quais participo, nas rodas de amigos, ou seja lá onde se encontrar pessoas conversando, você rapidamente notará a imensa dificuldade que as pessoas têm para usarem as palavras com seus respectivos termos e conceitos. Isso nos leva a outro problema: quem não sabe usar as palavras com precisão não reconhecerá, nelas, o verdadeiro sentido quando estas lhes chegarem aos ouvidos. Esse pequeno detalhe, se observado, encerraria uma discussão antes mesmos dela começar.
Reparem que isso acontece no meio protestante, as Escrituras Sagradas são as mesmas, mas o entendimento que se faz delas é tão diverso quanto o número de denominações (igrejas) evangélicas. Centenas, talvez milhares. Um erro de interpretação e pronto, nasceu uma nova igreja.
Um outro exemplo disto é quando você diz: Fulano é um sujeito medíocre. Em 90% dos casos, ou seja, 9 em cada 10 vezes que uso esse adjetivo (medíocre) para me referir a uma pessoa sou mal interpretado e a comunicação falha. Vejam que, neste exemplo, a palavra medíocre não está superestimando nem subestimando o sujeito, apenas colocando-o na média geral da sociedade, da sua profissão ou talento que esse sujeito possui (É claro que uma outra interpretação pode ser atribuída a essa sentença e dependerá do contexto em que a expressão foi inserida, mas aqui não é o caso).
Hoje, infelizmente, chamar um brasileiro de medíocre é literalmente ofendê-lo, independente do contexto. A palavra simplesmente tornou-se um xingamento – e o é, se levarmos em conta o QI médio dos brasileiros (80 pontos), ou atribuí-la as estatísticas do IBGE, onde revelam que mais de 50% das pessoas que chegam as universidades são literalmente analfabetos funcionais. Neste contexto, sim, chamar um brasileiro de medíocre é sim rebaixá-lo a uma condição de débil.
A riqueza e variedade de sentidos (figurado, análogo, metafórico, literal) que as palavras carregam, se têm algum valor, este, é o de expressar ás reais intensões, sentimentos, ironias, sarcasmo, malícia, amor, ódio, sem deixarmos de observar as nuances, para que não aconteça, por exemplo, de você falar que viu um mico leão dourado e a pessoa entender que você viu um leão (felino).
O fato aqui relatado (objetivo deste texto) é: ou começamos a nos importar realmente com o uso que fazemos das palavras, ou aumentaremos a confusão que hoje está instalada no Brasil, sobre tudo nas redes sociais, onde não dispomos do auxílio dos gestos, expressões faciais, postura, etc., tão importantes para a boa comunicação, ao menos para quem está recebendo essa informação e tem que apostar que o comunicador fez o melhor uso que podia das palavras para expressar essa ou aquela idéia.
Enquanto escrevo estas linhas já posso prever a confusão dos diabos que elas iniciarão tão logo elas caiam no foicebook.
Dizer que hoje há boa comunicação (no sentido estrito da palavra) entre as pessoas, salvo algumas raras exceções, é não saber fazer um bom uso das palavras “bom” e “comunicação”. Ou seja, é não saber se comunicar.
Ou vencemos essa dificuldade, ou consolidaremos o Brasil como uma terra de loucos e as coisas só irão piorar.

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