sábado, 27 de junho de 2015

A quem iremos? - Parte III (Dissonância cognitiva)


ESCRITO POR EDUARDO SILVA
27 DE JUNHO DE 2015

Muito longe de esgotar esse assunto (o efeito Francisco) que iniciei no artigo 'A quem iremos? - Parte I', limito-me, ao menos por hora, abordar a questão da dissonância cognitiva[1] causada na cabeça de muitos católicos, e até nas dos não católicos, no que tange os últimos acontecimentos políticos e religiosos.

Estou convencido de que essa história de ambientalismo, ideologia de gênero, sócio-construtivismo, liberdade sexual, Paz mundial, etc., é pura empulhação: instrumentos para escravizar mentes e corações em escala global. Todos esses slogans têm uma coisa em comum, são pequenas engrenagens de uma grande roda que já começou a girar. Tais signos, sem exceção, empurram a humanidade para um brete cujo objetivo é desconstruir o homem e reconstruí-lo a seu bel prazer.

Vejamos atentamente o que diz o Pe. Paulo Ricardo Azevedo Júnior a respeito da nova ordem mundial:
A Nova Ordem Mundial está sendo implantada rapidamente em nossa sociedade. O projeto que culminará em um governo mundial será alicerçado em uma religião sem dogmas, "ao gosto do freguês". Por isso, a maior luta travada nesse momento é a desconstrução (=destruição) dos valores judaico-cristãos, mais especificamente da Igreja Católica Apostólica Romana e de tudo que ela traz em seu bojo (vida, família, valores éticos, morais etc.).[2]
O Pe. Paulo Ricardo, assim como muitos católicos, deve ter uma opinião dissonante à encíclica do Papa Francisco, ao menos em parte, acredito. Porque na 'Laudato Si', no número 207, o Papa convida-nos a seguir as diretrizes de um documento chamado 'Carta da Terra'[3], documento este que muita gente aceita por raciocinar metonimicamente[4] sem ao menos atinar para o seu conteúdo integral.

Comentou Pe. Paulo, no programa(22) ao vivo, no minuto 5 em diante, que:
[...]é interessante a gente ver o papel que o Leonardo Boff tem desempenhado em toda essa realidade; ele faz afirmações claríssimas apoiando a 'Carta da Terra'; esse documento que na realidade implanta esse paganismo onde nós temos essa visão de mundo completamente diferente da visão de mundo que nós cristão costumamos ter. Nós, cristãos, cremos que Deus criou o mundo e pôs o homem no mundo como a principal criatura. Nós somos aqueles que devem crescer e dominar a terra, claro, que no respeito à criação de Deus.[...]nesse neopaganismo, relativista, que é uma religião sem dogmas e sem um Deus, claro, o homem torna-se um intruso da criação[...]começa-se a falar de uma veneração da 'mãe terra'...[2]
Diante de tudo isso, sentir desconforto é quase inevitável. Temos que ter em mente a clara diferença que há entre um dogma da igreja católica e uma opinião pessoal, seja ela de um padre, um bispo, ou do próprio Papa.

Se você leu os artigos I e II, a essa altura deve estar achando que sou um forte candidato a virar um protestante? Engana-se! O próprio Papa Francisco escreveu que "sobre muitas questões concretas, a Igreja não tem motivo para propor uma palavra definitiva e entende que deve escutar e promover o debate honesto entre os cientistas, respeitando a diversidade de opiniões." [Laudato Si, 61] 

Espero que isso não desemboque na 'profecia de Raztinger', que prevê uma grande apostasia entre os católicos. No entanto, sabemos que a barca de Pedro é conduzida ao longo da história pelo próprio Senhor Jesus, e foi isso que o Papa Bento XVI, por ocasião da sua eleição como sumo-pontífice, já nas suas primeiras palavras como Papa, disse:
Queridos filhos e filhas, depois do grande João Paulo II, os senhores cardeais elegeram um simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me o fato de o Senhor saber trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes e, sobretudo, confio-me às vossas orações. Na alegria do Senhor ressuscitado, confiante na sua ajuda permanente, caminhemos em frente, o Senhor ajudar-nos-á e Maria, sua santíssima Mãe, está do nosso lado. Obrigado![5]
São em momentos como esse que não devemos esquecer as palavras ditas pelo apóstolo Pedro, quando respondeu ao Senhor fazendo sua confissão de fé, dizendo: “Senhor, a quem iremos nós? Tu tens as palavras de vida eterna”. [João 6: 68]


Oremos pelo nosso santo padre, o Papa Francisco.

Notas

[1] "A teoria da dissonância cognitiva baseia-se na premissa de que a pessoa se esforça para manter a coerência entre suas cognições (convicções e opiniões). Quando a uma pessoa tem uma crença sobre algo e age diferente do que acredita, ocorre uma situação de dissonância. A dissonância é a contradição e uma das principais fontes de inconsistência no comportamento. O elemento cognitivo é uma convicção que o indivíduo tem sobre si mesmo e o ambiente." 
[3] "A Carta da Terra é uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção de uma sociedade justa, sustentável e pacífica. Busca inspirar todos a um novo sentido de interdependência global e responsabilidade compartilhada voltada para o bem-estar de toda a família humana, da grande comunidade da vida e das futuras gerações." 
[4] O filósofo Olavo de Carvalho explicou muito bem esse erro com o seu fabuloso artigo no jornal Mídia Sem Máscara cujo título é 'Profecias do Diabo'.  http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/14071-profecias-do-diabo.html
[5] Andrea Monda - 'Bendita Humildade: O estilo simples de Jozeph Ratzinger'. p, 7.

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