quinta-feira, 25 de junho de 2015

A quem iremos? - Parte I




ESCRITO POR EDUARDO SILVA
24 DE JUNHO DE 2015

“Senhor, a quem iremos nós? Tu tens as palavras de vida eterna”. [João 6: 68]

Os últimos acontecimentos desta década, sobretudo entre os meios católicos, tem me deixado um tanto inquieto, porque, ao que tudo indica, serão os balizadores das novas regras de comportamento ao mesmo tempo em que tentarão impor[1] um “novo” estilo de vida a todos os que moram nessa “casa comum”.[2]

Parece que as elites globais estão com uma excessiva pressa para dizer: Eis aqui um novo “catecismo”, o supra-sumo da moralidade universal, que aliais, como sabemos bem, é o verdadeiro intento da Organização das Nações Unidas (ONU), visto que seus diplomatas (aqueles ninguém conhece), desenvolvem políticas sobre saúde (OMS), educação (UNESCO), bem como as megas campanhas para padronizar o homem segundo seus próprios padrões de moralidade.[3] 

Notem que, coisas que a humanidade vem polindo há séculos, como democracia, avanço científico/tecnológico, conservação dos padrões morais que se iniciaram a partir do Verbo encarnado (nosso Senhor Jesus Cristo), parecem coisas de segundo escalão quando comparados a essa nova proposta de "paraíso" na terra (sustentabilidade/ecologia integral). 

Esta semana veio a público a encíclica do Papa Francisco, 'Laudato Si'[4], e, tão logo se tornou pública virou objeto de controvérsia, até mesmo entre os católicos que parecem não compreender muito bem as palavras do Papa; incompreensão esta, que será o assunto do próximo texto. 

Mas, voltando aos últimos acontecimentos, e aqui refiro-me usando como ponto de partida a renúncia do nosso querido Bento XVI, da qual entendo que se deu por motivos de saúde (não estou dizendo com isso que Bento XVI não tenha sofrido grande oposição por ser um Papa conservador e comprometido com a tradição apostólica, ao passo que o antecessor e o seu predecessor nem tanto assim); uma renúncia que demostrou coragem e humildade, virtudes tão necessárias para o vigário de Cristo [II Timóteo 4, 6-8], e não um ato de covardia como muitos “católicos” progressistas dizem por aí. Esse ranço observado para com o Bento XVI nos meios católicos é explícito; vemos isso todas as vezes que padres, ou religiosos, mencionam os Papas São João Paulo II e Francisco sem fazer qualquer menção a Bento XVI, como se ele simplesmente não existisse.[5]

Dito isto chegamos a Francisco, um Papa que parece ter caído nas graças dos seguimentos sociais que antes viam na pessoa dos Papas um inimigo da civilização moderna e perseguidor da liberdade alheia, como os LGBT’s, Time, MST, etc.,[6],[7],[8] chegando inclusive a mobilizar uma petição de nível mundial em seu favor[9]  

Quando vejo o Papa sendo louvado pelos pagãos imediatamente lembro das palavras do Nosso senhor, quando disse: “Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o mundo vos odeia”. [João 15: 19]

A minha inquietação não é vã, justamente porque ela nasce das palavras e dos escritos daquele que, nós católicos, devemos seguir com a justa obediência que o vigário de Cristo merece. Quem se atreve negar que as palavras do Papa Francisco podem, e foram, usadas tanto por pessoas de bem como por astutos perversos? Pela dualidade de sentidos que elas carregam, como foram as palavras proferidas no avião quando retornava da JMJ, realizada no Brasil?[10] Ou, as palavras ditas nesta quarta-feira (24), na praça se São Pedro, Vaticano? "Existem casos em que a separação é inevitável, inclusive moralmente necessária, para tirar os filhos da violência e da exploração e até da indiferença e estranhamento"[11]

O que o Papa quis dizer quando falou "indiferença e estranhamento, só Deus sabe.

Um outro exemplo disto, e não menos inquietante, é o sínodo das famílias (2015) que o Papa Francisco convocou para discutir uma nova abordagem que a igreja deverá ter para com as novas modalidades de família[11]. Uma coisa eu posso presumir deste sínodo: ao seu final - e me cobrem se eu estiver errado - ele acabará por, de alguma forma, flexibilizando ou abrindo pequenas brechas para um novo formato de família.[12] No site da CNBB[13] o cardeal Dom Odilo Pedro Scherer encerra seu texto dessa forma:
Ninguém se iluda, pensando que as discussões do Sínodo vão se resumir às questões da comunhão para as pessoas divorciadas e recasadas, ou às uniões de pessoas do mesmo sexo. Seria caricatural. A 3ª. assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos terá uma vasta gama de questões a tratar: questões que desafiam a evangelização.

Aí eu fico pensando: Por mais de dois mil anos o conceito/modelo de família - referência última - é a sagrada família (Jesus, Maria e José) e qualquer alteração ou adaptação aos novos tempos, ou como falam "novos desafios" corre o risco de querer melhorar o que é perfeito. 

Diz o catecismo:
O pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem entre si a comunhão íntima de toda a vida, ordenado por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à procriação e educação da prole, entre os baptizados foi elevado por Cristo Senhor à dignidade de sacramento [Catecismo, 1601]
No número 1608, do catecismo, lemos:
No entanto, a ordem da criação subsiste, apesar de gravemente perturbada. Para curar as feridas do pecado, o homem e a mulher precisam da ajuda da graça que Deus, na sua misericórdia infinita, nunca lhes recusou (111). Sem esta ajuda, o homem e a mulher não podem chegar a realizar a união das suas vidas para a qual Deus os criou no princípio [Catecismo, 1608]
Notem que com a ajuda da graça, que Deus nunca recusa, a única coisa que as famílias deveriam ouvir da igreja era um "Sedes fortes", e não um, "em certos casos...".[11]

Em suma, o Papa Francisco com a convocação do sínodo para as famílias e com essa nova encíclica, parece esquecer o modelo de família perfeita pregada há mais de vinte séculos, e, esquece também que, o novo homem do qual o evangelho fala não é esse idealizado por essa nova ordem globalista/ambientalista: um ser humanista, ecologista, quase panteísta, as vezes comunista, servil as determinações de um Estado que se julga responsável pela educação e valores desse “novo” homem.[14]

Diante de tudo isto que agora constato e escrevo, reservo-me na liberdade de consciência que é garantido a todo cristão,[15] e como filho da igreja e sob a autoridade de Pedro (Papa Francisco), concluo que, até esse presente momento, ou o Papa está muito mal assessorado (e aqui lembro da fumaça de satanás que entrou na igreja)[16], ou, quem sabe, entraremos definitivamente na nova era, ou nova ordem mundial. 

“Senhor, a quem iremos nós? Tu tens as palavras de vida eterna”. [João 6: 68]


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Notas.

[1] Diz o Papa: "É preciso reconhecer que os produtos da técnica não são neutros, porque criam uma trama que acaba por condicionar os estilos de vida e orientam as possibilidades sociais na linha dos interesses de determinados grupos de poder. Certas opções, que parecem puramente instrumentais, na realidade são opções sobre o tipo de vida social que se pretende desenvolver. [...]Às vezes não se coloca sobre a mesa a informação completa, mas é seleccionada de acordo com os próprios interesses, sejam eles políticos, económicos ou ideológicos." Laudato Si - 107 e 135

[2] ‘Casa comum’ é o terno usado pelo Papa ao referir-se ao planeta terra.


[10] http://oglobo.globo.com/rio/se-pessoa-gay-procura-deus-tem-boa-vontade-quem-sou-eu-para-julga-la-disse-papa-francisco-9255712
[11] http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/06/papa-admite-a-necessidade-da-separacao-do-casal-em-alguns-casos.html
[12] http://nacoesunidas.org/livreseiguais/
[13] http://www.cnbb.org.br/outros/cardeal-odilo-pedro-scherer/14947-sinodo-dos-bispos-em-assembleia-extraordinaria
[14] "O que está a acontecer põe­nos perante a urgência de avançar numa corajosa revolução cultural." Laudato Si, 114
[15] Sobre muitas questões concretas, a Igreja não tem motivo para propor uma palavra definitiva e entende que deve escutar e promover o debate honesto entre os cientistas, respeitando a diversidade de opiniões.