ESCRITO POR EDUARDO SILVA
2 DE JULHO DE 2014
Portanto, não seja como o personagem Chicó que quando era questionado no final de cada estória contada, dizia: "Não sei, só sei que foi assim!"
Não é raro vermos aqui, ou ali, pessoas negando certas coisas, afirmando outras, e não terem a mínima noção do que falam. Como no filme 'O Alto da Compadecida', onde o personagem Chicó contava estórias para seu parceiro João Grilo e quando era indagado pelo amigo de onde tirara aquelas estórias e porque acreditava nelas, dizia: "não sei, só sei que foi assim!"
Isso - grosso modo - alguns poderiam dizer que é intuição, mas quando consultamos no dicionário o conceito de intuição vemos que ele fala de uma capacidade de entender. Na teologia, intuição e a capacidade nítida que os santos ou bem-aventurados têm de Deus. Na filosofia, por exemplo, intuição é a maneira de se adquirir conhecimento instantâneo sem que haja interferência do raciocínio.
Note que em ambos os casos a intuição é - clareza dos pensamentos - num assunto específico, e não uma espécie de "jogar a sorte" aderindo uma posição mesmo sem entender e apenas por querer fazer parte de algo.
No livro 'Como Ler Livros' de Mortimer J. Adler & Charles Van Doren, lemos:
"Se um leitor de livros diz que entendeu os argumentos do autor e não sabe expressa-los com suas próprias palavras, ele não entendeu os argumentos do autor."
E continua:
"O vício do "verbalismo" pode ser definido como o mau hábito de usar palavras desprezando o pensamento que deveriam transmitir e sem consciência das experiências ás quais deveriam se referir. É brincar com palavras. Como os dois testes indicam, "o verbalismo" é o pecado capital da leitura analítica. Esse tipo leitor nunca vai além das palavras. O máximo que possui é uma memória verbal que lhe permite recitar palavras de forma vazia."
Aqui está desvendado, e todo mundo deveria olhar para si antes de tomar partido de algo, se o impulso intimo que nos faz aderir a certas correntes de pensamentos é, em algum nível, o conhecimento, ou apenas fantasias do mundo dos sonhos.
Como diz Charles Van Doren:
"o verbalismo é o pecado capital da leitura analítica."
O autor explica que, não sabendo explicar um argumento que lhe fora apresentado, escrito ou falado, a sua maneira, é melhor deixá-lo - em suspenso - na memória do que concordar ou discordar e cair no pecado da pura verbalização.
Portando, não seja como o personagem Chicó que quando era questionado no final de cada estória contada, dizia: "Não sei, só sei que foi assim!"
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