quarta-feira, 25 de novembro de 2020

O mecânico e o acadêmico

 




ESCRITO POR EDUARDO SILVA 
25 NOVEMBRO DE 2020



Quantos programas de televisão nós já não vimos em que uma pessoa (ator) leva um carro com um fusível queimado para uma oficina e o “profissional” que o atende elenca uma série de problemas (defeitos) “urgentes” dois quais a maioria nem existe, mas que ele, o leigo, não tem como saber?

É ingenuidade pensar que esse tipo de trapaça ocorre somente nas "oficinas mecânicas" da vida. É preciso desmistificar certas coisas: um mecânico, um médico, psicólogo, dentista, advogado ou quem quer que invista dinheiro numa oficina/consultório/escritório o faz não por caridade, mas porque espera obter lucro. Não há problema nenhum em empreender, seja numa oficina mecânica ou num consultório médico em que a motivação principal seja ganhar dinheiro, mas, peço aqui que não percam de vista esse detalhe: a necessidade que todos temos de ganhar dinheiro. 

Esses profissionais precisam convencer os clientes em potencial de que seus serviços são não somente necessários, mas indispensáveis, mesmo que para isso usem técnicas psicológicas que se baseiam - em boa medida - no medo gerado nessas pessoas na hora da oferta dos seus serviços/produtos.

Se, por um lado os mecânicos desonestos te roubam inventando problemas que o seu carro não tem, procurando te tirar o máximo de dinheiro de uma só vez, alguns profissionais de saúde te roubam de forma parcelada, seja multiplicando as consultas sem a menor necessidade, seja pedindo uma série de exames que você não precisa para dar ares de que sabem o que estão fazendo, ou simplesmente para alimentar um sistema de coisas no qual eles estão inseridos. No caso dos psicólogos e psiquiatras é pior ainda, pois se você procura esse tipo de ajuda é porque você procura respostas (qualquer resposta) e eles sabem muito bem disso.

Acabo de ver uma psicóloga, com o rótulo de "psicóloga católica", tentando ensinar as pessoas a reconhecer uma pessoa com distúrbio antissocial. Não vou julgar a intenção dessa profissional, nem muito menos arriscar dizer se é malícia ou somente burrice mesmo da parte dela, mas o fato é que a criatura queria enquadrar pessoas como antissociais dizendo coisas do tipo:

Elas tomam leite, mas também gostam de café; são pessoas que gostam de preto, mas podem usar branco, azul, vermelho, amarelo, verde, cinza, etc. Para continuar o infinito de possibilidades, essa psicóloga afirma que: "pessoas com transtorno antissocial podem ter deficiência intelectual associada, ou podem ser pessoas altamente inteligentes" (o que contraria a afirmação anterior na mesma frase), e continua dizendo uma infinidade de podem podem podem... Ou seja, do jeito que ela expôs a coisa pode ser qualquer ser humano que respire e ande sobre a face da terra.

Para coroar o que estou tentando dizer, a “doutora” encerra a aula dizendo: “essas pessoas geralmente não vão buscar ajuda porque estão muito ocupadas em manipular outras pessoas”. 

Pare aí, cara pálida, deixa eu ver se entendi direito: a criatura parte da premissa de que se você não procurar pelo seus serviços, ou dos seus pares, é prova de que você tem algum problema de ordem mental. 

Que loucura isso, não é? Nessa lógica todo mundo é doente: os que procuram ajuda, porque não se sentem bem; os que NÃO procuram ajuda por se sentirem bem, também.

Creio, eu, que a maneira que essa psicóloga encerrou a palestra não seja casual, mas uma técnica ensinada nos cursos de psicologia e psiquiatria que sugere que qualquer pessoa normal que venha a recusar ser avaliado por algum desses "deuses da mente humana", confirma, na visão deles, mesmo sem qualquer laudo ou avaliação prévia, que é portador de distúrbio antissocial. Essa é uma premissa totalmente falsa, que leva a uma conclusão mais falsa ainda. 

Pois bem, lembra do mecânico picareta do início do texto? Pois é...

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